quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Criar o Futuro (IV)


Cristina Mendes, filha da viúva, compareceu ao funeral. Dela, apenas se sabe que vive no Canadá e que se dirigiu a Lisboa para assistir ao enterro da senhora sua mãe. Não houve quem lhe dirigisse a palavra mas todos a olharam de soslaio, pelo menos uma vez.
Manuel, grande amigo da falecida sra. Mendes, mostrava-se calmo. Todos aqueles que compareceram ao funeral se dirigiram a ele como forma de lhe demonstrar o seu pesar. Apesar de agradecer, Manuel não verteu uma única lágrima pela viúva.

***

- Mas... Vitória, explica-me porque não queres voltar a ver-me!
- Bem sabes que sou casada.
- E que diferença faz? O teu marido nunca nos impediu de nos encontrarmos; até porque ele não sabe nem sequer desconfia do que se passa.
- Não sabe nem desconfia mas pode vir a saber. E agora, sai. Não tornes a voltar a bater a esta porta que não és bem-vindo.
- Por fav... - Vitória interrompe Manuel de forma irrascível.
- RUA!

Manuel saiu para não mais voltar. Vitória sabia-se grávida.

***

Cristina nasceu sem conhecer o pai. Segundo lhe contaram, este suicidou-se antes de saber que iria ser pai uns meses mais tarde. A viúva Mendes levou consigo o segredo bem guardado acerca da paternidade de sua filha. Manuel nunca havia sequer desconfiado, nem teria tempo suficiente para descobrir; Cristina voltaria ao Canadá após o enterro do corpo de sua mãe.