sábado, 30 de dezembro de 2006

Voltaire

Se queres conversar comigo, define primeiro os termos que usas.
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Reflexo (6)

Parte 8
Cinemascope [16:9]


Tudo aconteceu, já. Nada falta. Nada.

Os amigos que vão e vêm foram, ficaram ou voltaram; aqueles que tiveram sexo tiveram-no com soluções prontas e seguras, ou sem soluções, com prazer ou sem ele, com ou sem sexo; as drogas toldaram-nos os pensamentos momentaneamente para que pudéssemos re-surgir em grande, sem que nos lembrássemos de tudo o que se havia passado; o álcool seguiu a droga e subiu-nos à cabeça parecendo concentrar-se apenas no estômago, na garganta, na língua, nos lábios, na cara, no carro, no chão; falaram cara a cara comigo enquanto o tabaco me falou ao ouvido; as pessoas moveram-se por mim enquanto eu me esquecia delas e eu lutei por elas mesmo quando se tornaram egoístas (porque eu sou o derradeiro egoísta); a luta desenrolou-se depois de me ter atirado para o chão a chorar por quem não merece, depois de me quererem bater porque eu chorava ainda mais, depois de me arrastarem pela areia, depois de me sentarem e tomarem conta de mim; as discussões e o ódio acumularam-se entre os que me são me queridos; as discussões e ódio acumularam-se entre mim e os que me são queridos; eu cresci, ele cresceu, ela cresceu, todos eles cresceram e deixaram saudades daquilo que foram; choraram ao meu colo, cantaram para mim, abraçaram-me, beijaram-me, acariciaram-me com as palavras mais sérias e preocupadas de sempre; preferi fugir; decidi voltar; decidi ser eu, decidi tornar-me eu; decidi aceitar ajudas e retribui-las; decidi oferecê-las a troco de nada; decidi lutar por mim.

Era impossível ser amado. E, como tal, não o fui. Ainda assim, 2006 deverá ser considerado o "Ano do Cinema" - nunca eu me tinha envolvido em tantos filmes...

***

Acordo.
- Quantos dias passaram?... - pergunto.
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Albert Einstein

Enquanto os intelectuais resolvem os seus problemas, os génios previnem-nos.
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terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Bloc Party









The Prayer
Bloc Party
A Weekend in the City

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Reflexo (5)

Parte 4
O Postal de Natal


Aos 15 todos fazemos o que fazemos; aos 20 temos a oportunidade única de fazer o que não mais voltaremos a fazer; tudo faz parte de alguma lei que se entendeu ser a da vida. Tudo isto estará certo desde que os princípios sejam os certos.
- É sempre mais fácil ajudar quem está longe que dar a mão ao nosso vizinho;
- É sempre mais fácil "encostar" e esperar que o mundo resolva;
- É sempre mais fácil esquecer que a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros;
- É sempre mais fácil escamotearmos o ter que fazer nos chamados pensamentos filosóficos que irão mudar o mundo;
- É sempre mais fácil julgar os outros pela mediocridade dos actos, mas afinal as coisas básicas têm de ser feitas;
- É sempre mais fácil...

Nunca esquecer que todos temos algo a fazer e ninguém tem o direito de julgar!

Um bom Natal, Santo quanto baste, sensato e menos virtual.

Luís


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Escrevo a lápis tendo a esperança que a mensagem deste postal se apague com o tempo. Seria muito mais fácil falar de ti, fugindo ao facto de eu ser um chato de primeira, mas, seguindo o princípio básico que enunciaste - ninguém tem o direito de julgar - vou limitar-me a explicar, sinteticamente, de que fibra sou feito...

[ideologia política; gestão caseira]

Ainda assim, nunca poderás acusar-me de inconsistência entre a forma de pensar e a forma de agir. Cada vez mais, ajo, não sem pensar, não me limitando a tentar mudar o mundo, mas começando por algum lado. Afinal, não é o que os senhores deputados fazem naquela salinha?
Mesmo não tentando mudar o Mundo, sei que é possível fazer alguma coisa pelos que nos são mais chegados. Estando fisicamente longe ou não, ajudo quem me pede a mão e, ainda que não peçam, ajudo quem não o recusa, porque o orgulho ainda não possuiu o seu ser. Não há nada como o sentimento de partilha e confiança que advém da entreajuda inter pares. Quando o faço, tento passar uma mensagem com vista a corrigir um erro anterior, não através de um mero juízo de valores, mas de um ensinamento que toca a raiz do pensamento. Note-se: a displicência não forma o Homem. Ao ajudar, seja de que forma for, construo-me, enquanto colaboro para o bem-estar de quem agradece a minha presença. A liberdade alheia é respeitada na sua essência, uma vez que a pessoa em questão pode recusar.
Mas penso que falavas da liberdade de uso de bens materiais... na sua essência, o problema não deveria ser a proibição do seu uso, mas a sua conservação independentemente da utilização do objecto em causa. Se o bem for tornado comum, criar-se-á uma necessidade, também ela comum, de conservar o mesmo, visto que todas serão partes interessadas.
Concretizando, não te peço que mudes, mas, se prezas tanto tudo aquilo que é teu a ponto de proibires que toquem nas tuas pertenças, devo dizer-te que deverás passar a ter mais cuidado sempre que usares algo que seja meu. Não te peço que efectues qualquer tipo de manutenção, apenas que deixes no mesmo estado em que encontraste. O termo «arrumar» é-te familiar?

*****

Já tinha sonhado com o teu postal de Natal. Já lhe "conhecia" o conteúdo... Preferi manter a resposta que já tinha pensado, desta vez ao som do Sr. Variações ("É P'ra Amanhã"/"Muda de Vida"). Pretty self-explainatory. Aproveitando o facto de neste postal de "Natal" não constar nenhuma mensagem de "Feliz Natal", toma-o como uma mensagem de "Próspero Ano Novo". Próspero ou não, será diferente, certamente.

A mensagem que tento trasmitir-te é simples: luta-se por tudo aquilo em que se acredita, pois só assim será possível atingir uma meta mais longínqua, ainda que passo a passo. Para "encostar" e "deixar que o Mundo resolva" é preciso ser-se [ainda] muito ingénuo e, com alguma tristeza da minha parte, já passei [por] essa fase há algum tempo... A inconsistência e incerteza que advém da formação da mentalidade foi deixada para trás dando lugar à conformidade entre pensamentos, ideias e acções; e ainda hoje, não a identifico em ti.

P.S.: No anterior postal de Natal assinaste como Pai, no bilhete de aniversário como "Pai" e desta vez como Luís. Como esse pequeno gesto de mau gosto me pareceu inaceitável, decidi explicar-te quem sou. Pointlessly, perhaps; it is just the beginning, though.


Feliz Ano Novo,


Jaime ..............................

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Há um ano atrás...

Yellow dreams.

Pela primeira vez, acendo uma vela por alguém. Alguém que não conheço mas considero um importante suporte para um dos meus maiores amigos de então. Penso que quando contactamos com a morte, quando estamos à beira do desespero, quando não temos alguém a quem recorrer, quando temos ninguém, quando nem pelo nosso nome conseguimos gritar, recorremos a algo aparentemente superior. A vela serve, portanto, para pedir, silenciosamente, para que o cabrão lá cima olhe pelo falecido. Morto. Defunto. Passado.

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Preparo a passagem de ano. Mas quero passá-la com o meu avô, que sei que pode passar, também ele, para o outro lado. E eu sei que quero passar do mesmo lado, ao seu lado.

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Choro e preocupo-me com os amigos mais chegados, e quero que estejam a meu lado para que eu saiba que estão bem. Faço viagens de carro, enquanto tenho dinheiro para gastar, compro chocolate, vejo um bom filme. Converso. Descanso. Descanso-os. Descanso-me, e espero que o amanhã seja melhor, ainda que saiba que não será. São 8:04 e ainda não adormeci...

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Sonho noite após noite com um dia que não aconteceu mas acontecerá - eu sei disso; porque os sonhos nos levam mais além... mesmo até onde não queremos ir, até nos mostrarem o caminho. Obrigado; (Não se agradece); Agradece-se sempre...

Reflexo (4)

Parte 2
A luzinha de Natal ou a mancha gráfica literária



Entro. Saio. Entro novamente e volto sair para a rua. Salto a poça de água que olha para as minhas narinas, vistas de baixo. Que horror. Não caio. As calças estão cada vez mais molhadas e cobertas de lama, mas não me importo; estou cada vez mais próximo da brancura da neve. O autocarro atravessa-se à minha frente, sobre uma outra poça (deviam ser primas) que se transformou em muitas gotinhas de água imunda. Eu imundo, agora. O motorista do autocarro segue viagem e os passageiros seguem-no, olhando para trás, para a aberração. Afinal, as aberrações ainda têm piada hoje em dia. Molhado, sujo, pensativo, sigo devagar até à paragem inexistente a 200 metros de minha casa. Os headphones (e não earphones) abafam os ruídos do exterior, de forma a que não tenha de me preocupar com nada, a não ser com a violação da minha própria mãe. O meu pai não se importa, por isso, alguém tem de se preocupar. A minha avó não gosta dela, mas eu sei que o meu avô se preocupa. E quer deserdá-la mas não pode. Por isso é que eu me preocupo, por não ter mais nada que fazer. Não tenho dinheiro, não quero ter amigos, não gosto de meninas com mamas muito grandes (agora há uns soutiens push-up, aumentam o tamanho das ditas cujas) e saias proporcionalmente curtas, não gosto de ler, não gosto da música que estou a ouvir e quero ver o tecto a girar de novo. Scratch scratch. Everything is everything. E enviar mensagens ridículas sabendo que a esperança de morrer acompanhado morre antes de ter nascido. Receber mensagens sem nexo e cair em desespero. Porque os animais também choram mas só quando as pessoas não estão a ver. Como no Toy Story, porque os brinquedos se mexem. Tirem-me desde mundo onde toda a gente se odeia em silêncio, porque eu também os odeio a todos ainda que não o diga... ou talvez não. A dependência é tão elevada. Morro sozinho sabendo que estou acompanhado e não quero estar. Mas eu sei que a culpa é minha. A neve começa a cair antes que eu consiga chegar à Faculdade de Psicologia, porque fiquei preso na faculdade ao lado. E faço mais um esforço, luto contra tudo e todos, contra a minha própria saudade e salto o telhado de novo. O salto parece perigoso aos que vêem de fora, mas para mim é apenas mais um salto em busca de algo maior. Aterro mal, cai-me a alma aos pés e é varrida pelos varredores da Câmara. Vai para o lixo, claro, até porque é uma mer**. Mas luzinha de Natal brilha, brilha lá no céu e não me deixa sozinho por muito tempo. O menino Jesus até gosta de mim, apesar de dar o cú (eu odeio que ele dê o cú) e o Cristo Rei tem os braços abertos às pessoas que se dirigem para a Margem Sul. Lisboa não é assim tão boa quando isso. Chego a casa e janto. Sem tomar banho, uma vez mais. Não tomo banho desde sexta e não me sinto mais porco do que todos os dias. Preciso de mais um cigarro enrolado com mortalhas saborosas ao som da selecção musical do tio Pedro. E talvez seja a solução para todos os meus males...

domingo, 17 de dezembro de 2006

Colecção de manias

A pedido de várias famílias, deixo-vos uma pequena colecção de cinco (e apenas cinco!) manias que me fazem parecer louco aos olhos do português comum...

Mania #1 - a gasolina está cara...

Evito, ao máximo, dar voltinhas com o carro. Além disso, o carro anda sempre na reserva e como tal, não deixo que ninguém o conduza (a não ser eu) para evitar gastos ligeiramente superiores. Evito passar das 2000 RPM a não ser em autoestrada (onde chego às 3000 RPM). Apesar de não deixar que o conduzam, não tenho qualquer problema em ceder o banco traseiro... sim, isto é verdade.

Mania #2 - chocolate para barrar no pão

A verdadeira utilidade do chocolate cremoso para barrar no pão não é "barrar no pão", mas "comer às colheres". No pão fica tão seco, não acham? Pior que isso: se de cada vez que lá enfio a colher usasse uma colher lavada, não poderia comer cereais ao pequeno almoço, por isso, tenho o cuidado de a lamber muito bem antes de a voltar a enfiar no boião...

Mania #3 - qualidade de som

Não gosto de ouvir música com qualidade de Rádio. Além disso, odeio ter ruídos de fundo enquanto ouço música, seja ela qual for. Preciso de fechar as janelas do quarto, a porta... mas não me chegou. Coloquei uma estante cheia de livros logo a seguir à porta, entre esta e o computador, para que o som se concentre...

Mania #4 - higiene pessoal

Há quem goste de lavar a cara, as maõs, os pés, quem goste de não se lavar de todo, quem goste da sensação de limpeza nas axilas... Eu gosto de lavar os dentes. Gosto da espuma, gosto da escovinha, gosto do sabor do dentífrico (menta), gosto da água fria, gosto do sabor do fio dental (hihihih) e do elixir.

Mania #5 - lista de contactos

Gosto de sincronizar a minha lista de contactos entre o computador e o telemóvel. Gosto de a organizar por nome próprio e apelido. Gosto de registar a alcunha, a fotografia do contacto, a morada, a data de nascimento, etc... Tudo aquilo que nunca me servirá para nada.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Espécie de vampiro


As batalhas de hoje em dia são travadas via MP3.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Amor

O amor cega-nos. É por isso que, sem que nos apercebamos, deixamos fugir a pessoa que amamos.

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"Perdi a mulher da minha vida."

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Corres atrás de um vulto que já não distingues na escuridão. Ainda lhe ouves os passos longínquos que se afastam cada vez mais até ao ponto de se tornarem num eco indefinido. Choras. O ruído do bater das lágrimas na poça que formaste eleva-se até ao céu. Ela não ouve e segue em frente, cegamente...

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Happy endings


O tempo passa, bem ou mal, para aqueles que lutam contra a vontade inexplicavel de erguer uma parede contra as areias do tempo porque estas arrastam os corpos e espíritos para o negro, o vazio que todos pensam temer até que se aproximem um pouco mais.

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E assim, já sem medo algum, deixam-se arrastar lentamente até ao seu final negro e inevitavelmente triste, como qualquer final real.

'Cause happy endings are stories that aren't finished yet
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quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

UNICEF

Na compra de um postal estará a ajudar a ovelha negra de cada família.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Zapping

Reconduz-se ao facto de nem sequer me dar ao trabalho de mudar o canal. Dos quatro canais que consigo e posso ver, ainda que com baixa qualidade de imagem e som, escolho a SIC e delicio-me com a presença do Herman e as com as suas piadas de baixo nível. Nada tem qualidade. Nada do que posso alcançar é suficientemente bom, agradável ou apetecível, à excepção do fruto proibido. Mute. Sound on. Mute. Sound on. And so on. Farto-me. Subo as escadas e sento-me frente ao monitor apagado. Mexo o rato e tento esquecer as conversas sobre o Ponto G enquanto foco a paisagem desfocada do meu Desktop. Farto-me de novo; encho-me de tédio enquanto espero que chova. Mas o Senhor não me concede esse último desejo. Desço as escadas que subi há menos de dois minutos atrás.

"Estou à luz das velas. Bebo álcool para esquecer aqueles que amo. Fazes-me falta. Tu e todos os restantes. Ainda não descobrimos a electricidade, pois não? Mas liguei o sistema de som. You know what else? I'm not ready to be heartbroken."

Non-sense.

Abro os olhos. Fecho os olhos. Abro os olhos. Fecho os olhos. Abro os olhos. Abro os olhos. Abro os olhos, cara***! Abro os olhos e cerro-os novamente. Mudo o canal, desta vez inconscientemente porque sempre que pestenejo se abre um novo capítulo no livro que deixei fechado em cima da mesa. E o cenário está, sem dúvida alguma, cada vez mais negro, cada vez mais vazio, cada vez mais distante. But I'm O.K. I'm pretty sure I'm O.K.


Jaime

domingo, 26 de novembro de 2006

Some news


I'm O.K. I'm pretty sure I'm O.K.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

I don't have enough

Cocaine is really evil coffee [that fashion people put into their noses].

Courtney Love, C.

terça-feira, 31 de outubro de 2006

Tempo

Tudo acontece de uma só vez para que não tenhamos de sofrer em prestações.

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Regresso

Após um longo período de seca, o meu stock pessoal de esperma começa a aumentar. Assim sendo, está na altura de colocar os tomates no sítio e recomeçar a escrever.

Um brinde aos leitores.

Jaime

domingo, 1 de outubro de 2006

The Poppers, The Feeling

Quanto à qualidade musical em si mesma, é de fazer notar que os portugueses The Poppers trabalharam dedicadamente o seu álbum de estreia. Mas os britânicos The Feeling, cujo vocalista é o Freddie Mercury, foram a performance da noite. Digo-vos mais: Rosé.


The Feeling. Aula Magna, 30 de Setembro de 2006

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domingo, 17 de setembro de 2006

Buraka Som Sistema

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YAH!





Nós Kudurámos. Lux, Quinta-feira 14 de Setembro de 2006.

domingo, 13 de agosto de 2006

EzSpecial

EzSpecial

Sesimbra, fortaleza, 12 de Agosto de 2006

sábado, 12 de agosto de 2006

Pai


He doesn't look a thing like Jesus
But he talks like a gentleman
Like you imagined
When you were young

terça-feira, 8 de agosto de 2006

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

O Caçador


Trôpego, o Tafona já não chegava às perdizes da Cumieira. Por isso, arrastava-se até Pedralva e caçava de espera. Caíam rolas no cedo, uma lebre ou outra pelo ano adiante, e coelhos quase sempre. No defeso, fornecia a casa e a barriga sem fundo do compadre Frederico; no tempo da permissão, vendia-lhe a Joana Benta as caveças na Vila.

- Veja vossemecê... - dizia ele, a contratar o preço. - Eu sei lá!...

Com oitenta e cinco anos, a vida fora-lhe sempre estranha como se a não tivesse conhecido. Casara, tivera filhos, mas nada disso o tocara por dentro. Virgem e selvagem na alma, continuava a caçar, e só embrenhado entre giestas e urgueiras é que ouvia, se ouvia, os clamores da mulhner e o ganido das crias.

Saía cedo, sempre supersticioso das menstruações da Camila, a vizinha do lado, que lhe mudavam a direcção do chumbo, e regressava altas horas da noite, colado ao granito das paredes, e assim escondido dos olhos curiosos da povoação.

- Por onde andaste?

A pobre da Catarina, a princípio, ainda tentou encontrar naquele destino pontos de referência em que pudesse firmar-se. Mas as respostas vinham tão vagas, tão distantes, que se atirou às leiras e deixou o homem às carquejas. Não era que ele mesmo enredasse os caminhos e despistasse conscientemente a companheira. As peripécias da caça e a cegueira com que galgava os montes é que o impediam à noite de relatar o trajecto seguido. Se quisesse e soubesse dizer por que trilhos passara, falaria de veredas e carreiros que nunca conhecera, descobertos na ocasião pelo instinto dos pés e rasgados no meio de uma natureza cósmica, verde como uma alucinação, com alguns ramos vistos em pormenor, por neles pousar inquieto um pombo bravo ou se aninhar, disfarçada, uma perdiz. Ás vezes até se admirava, ao regressar a casa, de tanta bruma e tanta luz lhe terem enchido simultaneamente os olhos. Serras a que trepara sem dar conta, abismos onde descera alheado, e um toco, um raio de sol, o rabo de um bicho, que todo o dia lhe ficavam na retina. É claro que nem sempre as horas eram assim. Algumas havia de perfeita consciência, em que nenhum pormenor da paisagem lhe escapava, as próprias pedras referenciadas, aqui de granito, ali de xisto. Mas, mesmo nessas ocasiões, qualquer coisa o fazia sonâmbulo do ambiente. Era tanta a beleza da solidão contemplada, despegava-se das serranias tanta calma e tanta vida, os horizontes pediam-lhe uma concentração tão forte dos sentidos e uma dispersão tão absoluta deles, que os olhos como que lhe abandonavam o corpo e se perdiam na imensidão. Simplesmente, essa diluição contínua que sofria no seio da natureza não excluía uma posse secreta de cada recanto do seu relevo. Uma espécie de percepção interior, de íntima comunhão de amante apaixonado, capaz de identificar o panasco de Alcaria pelo cheiro ou pelo tacto. A caça fora a maneira de se encontrar com as forças elementares do mundo. E nenhuma razão conseguira pelos anos fora desviá-lo desse caminho. A meninice começara-lhe aos grilos e aos pardais, a juventude e a mairoidade passara-as atrás de bichos de pêlo e pena, e agora, velho, as contas do seu rosário eram meia dúzia de cartuchos que, sentado, ia esvaziando no que aparecia. E a vida, a de todos os dias e de toda a gente, com lágrimas e alegrias, ambições e desalentos, ficara-lhe sempre ao lado, vestida de uma realidade que que não conseguia ver. A aldeia formigava de questões e de raivas, e ele coava- lhe apenas a agitação de longe, vendo-a fumegar na distância, ao anoitecer, e acariciando-a então num cansaço doce e contemplativo.

- Casou a Dulce...

- Ah, sim?...

Ouvira, de facto, imprecisamente, a voz do sino grande chegar repenicada e festiva ao Falição, mas o seu espírito não pudera nesse momento, nem podia agora, descer da nuvem de abstracção que o envolvia.

- Muito bonita ia o demónio da rapariga!

Humana, mulher, a Catarina tentava chamá-lo a uma consciência que reanimasse fogueiras mortas, sonhos desfeitos. Nada. O pensamento dele não estava ali: perdia-se nos projectos do dia seguinte, já cheio do rumor alvoroçado do bando de perdizes que sabia ir levantar da cama ao romper da manhã.

- Morreu a Palhaça...

- Ah, morreu?

E continuava a dar à manivela do rebordador, encontrando no cartucho, túmido como uma semente, não sabia que verdade mais profunda e mais transcendente do que aquela morte.

A velhice e o reumatismo tentaram com toda a brutalidade metê-lo noutros varai. Mas ele lutava, e, embora limitado às cercanias da aldeia, continuava ainda a sonhar.

Contudo, sem a liberdade absoluta dos longes, o seu espírito já não podia voar como dantes. A povoação ficava-lhe demasiado perto para lhe ser possível um alheamento como o de outrora. E os olhos, cansados e traídos, começaram a mostrar-lhe o mundo triste dos outros. Contra vontade, observava, então. Mas em casa, à noite, a mulher punha o acontecido a uma luz tão desconforme com o que ele vira, tão alheia à sua compreensão, que fechava a boca e não respondia.

- Os Canedos berraram...

- Eu vi...

- A cunhada chamou curta à Ana... O que ouvira eram gritos, evidentemente, insultos, com toda a certeza, mas nomes asssim... E uma tristeza muda apertava-lhe o coração.

- Um roubo em casa do Antunes...

- Bem me pareceu...

- Batatas, trigo, muita roupa, um presunto...

Quase que surpreendera o Rodrigo e a mulher com a boca na botija, e sabia que não, que o que esconderam na mina velha, e pudera examinar à vontade, era uma sombra daquilo. De maneira que cada vez se metia mais consigo, com medo do vidro de aumento que deformava tudo e envenenava os sentimentos. Porque uma coisa sabia ele: é que quase um século de caça não lhe endurecera nem lhe empeçonhara a alma. Matara, sim, e matava ainda, se podia, mas não era com ódio, a gritar maldição, que o tiro partia. Mais amorosamente do que mortalmente, o dedo premia o gatilho. E quando, a seguir, a lebre esperneava ou a codorniz gemia, a sua mão aligeirava docemente aquela agonia, numa carícia aveludada. Entre o sangue de pertiz morta - que através do cotim da calça, morno, lhe acordava a consciência da pele - e o seu próprio sangue, não havia o muro de nenhuma desarmonia. A morte que a arma fazia tinha no mesmo instante uma ressurreição dentro dele.

Mas a aleluia do formigueiro humano que o rodeava era outra.

- A Rosária a flara em moralidade! Se reparasse na filha...

- A Matilde? Qu fez ela?

- Nem tu sabes!

Palavra, que não sabia. Atravessara os anos como um duende, puro, alheio à raiva e à ganância, inocente, pronto a comover-se diante da primeira flor. Uma virtude, sobre todas, conservara sempre: a da lisa naturalidade. E por isso, no meio da incapacidade que sentia para entender o tecido de razões com que era feito o mundo que o cercava, a malha que menos o prendera era aquela onde se dabatiam forças e gestos de amor. O cio, a brisa de sémen que agitava todos os seres vivos durante alguns dias em cada ano, sabia-lhe à frescura de uma onda sagrada. Então, oleava e arrumava a arma, e os seus olhos, de caçador ainda, seguiam a revoada do casal de melros, o trajecto de um coelho, as pegadas da raposa, mas para os acompanharem comovidos naquela dádiva sensual e procriadora.

Infelizmente, só ele é que entendia de uma maneira assim inocente as coisas que tinham intimidade de ninho e calor de seiva. Porque a aldeia, que olhava compreensivamente as reses alevantadas, diante de uma rapariga cega de amores erguia-se como se visse um crime.

- Ela e o Avelino parecem cães à cainça.

- E que mal há nisso? Maiores e vacinados, que tinha que ver o mundo com o que o corpo lhes pedia? Mas os pais, aqui-del-rei que os enforcavam se olhassem sequer um para o outro, e a terra inteira aplaudia. Acontecia ainda que o Travassos, todo lá da mãe da rapariga, punha em semelhante martírio a sombra de uma perseguição.

De fora, mas infelizmente não de tão longe como desejava, o Tafona assistia à cena. Sentado à sombra da nogueira molar, e perto da poça onde vinham beber, esperava as rolas. E lá em baixo, na veiga, o seu olhar cansado ia acompanhando a comédia. A cachopa, de molho à cabeça, a pasar na Silveirinha; o rapaz a deixar a rabiça na lavrada e a sair-lhe ao caminho; e o esqueleto deo Travassos, abelhudo e ciumento, a correr a avisar as famílias.

Via e ficava a malucar naquilo, no contra-senso de tudo e de todos. Pois não seria melhor, mais justo, mais humano, deixá-los juntarem-se livremente, à lei da natureza? Contudo, daí a nada, a rapariga ia a toque de caixa pelo Teixo abaixo, e o rapaz retomava o arado a ouvir berros do pai.

- Uma pouca vergonha... - recomeçava a Catarina à noite, depois do caldo.

- O quê?

- O que há-de ser? A Matilde e o Avelino... Se não o Travassos...

Calou-se como de costume. Decididamente, cada vez entendia menos tal mundo.

Mas as pernas atraiçoavam-no miseravelmente, e embora quisesse fugir para muito longe, tinha de se resignar às leis da idade e caçar de emboscada coelhos pacatos na vinha velho do prior.

Era um Setembro puro. Videiras que pareciam cedros e cachos com bagos como bugalhos. Manco, o Tafona, foi-se arrastando e ainda a tarde vinha a cair além-Doiro já ele estav no seu posto, sentado, imóvel e silencioso, com a arma engatilhada sobre a coxa.

Como habitualmente, quase nem respirava. Por muito inocentes que fossem os láparos, farejavam ruído a cem léguas. E o Tafona, conhecedor daqueles ouvidos, apertava os pulmões.

A espera nunca lhe dava inteira paz de espírito. Forçava-o a uma espécie de compromisso com a parte traiçoeira da vida, estremando os campos do agredido e do agressor. Entre ele e o bicho não havia, daquela maneira, um verdadeiro encontro, um embate de forças. Tudo se passava sem alegria e sem eco, choque abafado, como o de uma pinha aberta a cair no musgo.

Subitamente começou a sentir sons indistintos. Prestou atenção. Passos. Passos de gente, e grande.

- Bolas! - disse, sem abrir a boca. De facto, perdera o tempo. Para que tudo retomasse a quietude inicial e os coelhos se resolvessem a vir gozar a fresca, seriam precisas horas, e então já não teria luz.

Os passos eram da Matilde, sorrateira, a saltar um bardo e a sumir-se na vinha.

- É boa!... - murmurou outra vez intimamente, agora noutro tom.

Mas ainda o seu espanto não acabara, já o Avelino, do lado do monte, lépido, deslizava para o meio da ramagem.

Riu-se. Desta vez riu-se com a sua mansidão habitual, sem barulho, enternecidamente, como se estivesse nos velhos tempos e visse no azul do céu dois pintassilgos a voar para o mesmo ninho.

Infelizmente, os namorados a desaparecerem, e sobre eles, de nariz no rasto, numa perseguição de rafeiro, o Travassos que, por acaso, caminhava direito à arma do caçador.

O Tafona nem teve tempo de pensar. Parou a respiração e encolheu-se quanto pôde atrás do esconderijo.

O abelhudo vinha apressado e chegou a tiro.

- Alto lá! - ordenou-lhe então, sereno, mostrando o corpo.

O Travassos estacou, apalermado. Por fim viu quem era e falou-lhe:

- Sou eu, ó ti Zé!

- Bem sei. Mas não te mexas.

- O Travassos, ti Tafona. Deixe-me ir salvar a infeliz!

A tremer e de olhos esgazeados, o zeloso coscuvilheiro não conseguia perceber. Mas o Tafona tinha-lhe friamente a espingarda endireitada ao peito, e ninguém da aldeia confiava na alma solitária do caçador.

- Alto, e nem tugir nem mugir! Aquelas coisas querem-se na paz do Senhor...



Miguel Torga, "Novos Contos da Montanha"

sábado, 5 de agosto de 2006

Reflexo (3)

Parte 1
Água


Deito-me na cama e aguardo pacientemente a tua chegada. Sei que nunca te terei por inteiro, mas o simples toque da tua pele conforta-me. Olho para os indivíduos que te comem, à bruta, todos dias, penso que [eu] podia ser mais um idiota, desinteressante, fútil, penso que podia não me importar com o que sentes ou deixas de sentir no mesmo minuto que te deitas a meu lado... mas não. Sento-me na cama, a teu lado, observo-te de alto a baixo e aprecio os teus contornos com o olhar até que te voltas para apagar a luz da mesinha de cabeceira.
- Boa noite - dizes.
- Até amanhã - respondo eu, na esperança de que o amanhã seja melhor.


A meio da noite sinto o teu braço, gélido. Tento aquecer-te, mas sinto-te cada vez mais fria, distante. Ainda assim, derretes a meu lado, desapareces de uma vez por todas e eu sinto-me feliz. És água, água pura. Gelada.

O rádio-despertador marca 10:27. Não ouvi o soar das 7:35.
Já não estás a meu lado, saíste cedo para o trabalho. Levanto-me e caminho lentamente até à casa de banho. Reparo nas portas do roupeiro entreabertas.

- ...É sábado...

terça-feira, 1 de agosto de 2006

O Eneagrama (5)

...São sempre prestáveis e satisfazem por iniciativa própria as nossas vontades. Não nos esqueçamos, porém, que a generosidade tem limites...


TIPO 2
eu ajudo

"Sedutores, prestáveis e generosos, os 2 são amigáveis, confiantes e normalmente úteis. Oferecem graciosamente, não apenas o seu tempo e energia como também os seus bens materiais. Parecem não ter necessidade de nada. Independentes e capazes, adoram satisfazer as necessidades dos outros. Um presente de um 2 será sempre cuidadosamente escolhido para agradar a quem o recebe. Podem sentir-se menosprezados se ajudam alguém que não nota ou não retribui; nesses casos, expressam um grau de raiva ou emoção que surpreende todos os outros. Adulam os que gratificam o seu orgulho, mas apenas aqueles que parecem dignos de serem seduzidos, podendo desprezar os restantes.

Como o 3 e o 4, o seu sentido de "ser" está no que os outros vêem e avaliam. A sua percepção de si mesmo gravita em torno da auto-imagem. O 2, em geral, procura ser tão bom a ponto de não precisar de competir, pelo que a sua competitividade não é tão visível como no 8. As suas habilidades e recursos estão normalmente disponíveis e a serviço de outras pessoas.
Os 2 desenvolvem uma requintada sensibilidade para perceber os estados de espírito daqueles que desejam agradar. Para satisfazer as necessidades alheias, conseguem ser o tipo de pessoa que os outros gostariam de conhecer pois apesar de não serem realmente falsos, comportam-se diferentemente com cada pessoa.

Muitos possuem a capacidade de "mergulhar" nas actividades de que realmente gostam, quase como se estivessem em "transe". A mente do 2 sente-se mais à vontade para lidar com a vida quotidiana e com as relações humanas em sociedade. São pessoas bastante sugestionáveis e exibem uma enorme capacidade de abnegação. Normalmente, as pessoas do tipo 2 não se consideram orgulhosas; observando, contudo, a sua aparente ausência de necessidades..."

Literalmente


"Aqui vou eu para a Costa
Aqui vou eu cheio de pica
De Lisboa vou fugir
Vou para o Sol da Caparica!!!"

quarta-feira, 26 de julho de 2006

Lamentações

Tenho andado bêbedo e pedrado. Não tenho conseguido pensar, quanto mais escrever aquilo em que [não] penso. Agradeço a vossa compreensão.

Jaime

domingo, 16 de julho de 2006

And now...


... for something completely different.

terça-feira, 11 de julho de 2006

Metes conversa?

O Verão é aquela estação do ano em que todos temos as hormonas aos saltos, os corpos bronzeados, e por acaso, também é nesta altura que os gajos querem papar gajas à toa; esquecem-se que a situação se inverte, por vezes, perigosamente.


"Metes conversa?"

E assim começa mais um Verão. A serenidade do som da rebentação das ondas é atordoada pelos urros dos miúdos que não sabem como se divertir silenciosamente. Tento dormitar na praia mas alguém insiste em atirar água para cima das [minhas] costas deitadas ao sol. Mais um daqueles parasitas que encontro mais depressa que todas as pessoas que vejo mais vezes que os meus próprios pais. E é loiro; e eu não gosto de loiras. E depois espremem-me os pontos negros das costas. Sensação deliciosa.
E a cena de engate enerva-me, novamente. Porque é Verão? Não, porque ela existe. E a ilusão é bonita. Comparável à cegueira. O sexo é frio. Era bom que outras sensações durassem tanto. Era bom que alguns dos sentimentos idiotas desaparecessem de vez. 3 fo***. Duas semanas de sexo inejaculante. Distante, à proximidade das lágrimas e dos dedos que as acariciam... no fim. Mas é bom, e assim a cena repete-se...

terça-feira, 27 de junho de 2006

'bout this... mountain

Brokeback Mountain: Love is a force of nature, é um filme de Ang Lee que espelha o amor intemporal de dois homens... mais concretamente de dois Cowboys. Guardadores de rebanhos, se preferirem um termo mais rigoroso.



Brevíssimo! resumo

Jack Twist (Jake Gyllenhaal) e En
nis Del Mar (Heath Ledger) conhecem-se no Verão de 1963, altura em que se propõem para pastorear um rebanho de ovelhas em Brokeback Mountain. Um deles, deverá acampar junto ao rebanho, durante a noite, e o outro, deverá permanecer mais abaixo, onde pernoitará sozinho e tratará de preparar a comida para que ambos se possam alimentar... sem acender uma única fogueira, sem deixar vestígios de qualquer tipo que possam denunciar a sua presença. Ainda assim, Jack e Ennis acendem uma fogueira por refeição, para que possam cozinhar.
Uma noite, Jack e Ennis bebem demais e Ennis acaba por adormecer junto à fogueira, deixando o rebanho sem vigia. Assim que esta se apaga, devido ao frio, Jack convida Ennis para dormir na tenda, junto dele. Nessa noite, uma explosão de um qualquer sentimento que estes não conseguem definir, leva-os a fazer sexo (si
m, sexo!: duro, nú e crú).
Após uma separação de quatro anos, Jack e Ennis reencontram-se e ainda que casados e chefes de família, não abdicam de se encontrar com regularidade em Brokeback Mountain durante cerca de 25 anos, até que Jack é assassinado.



Opinião pessoal/crítica

A acção pode ser decomposta em dois grandes planos: O plano amoroso e o plano do medo e preconceito.
No que respeita ao plano amoroso, inicialmente, Jack e Ennis provam que nenhuma mulher (ou homem) consegue preencher a falta que fazem um ao outro; contudo, com o avançar do tempo, Jack procura prostitutos, o que atribui aos dois amantes diferentes conotações e formas de encarar a relação: um valoriza o amor e outro respeita-o, mas além da necessidade do amor de Ennis, Jack sente um certo desespero pelo acto sexual em si.
Ainda que esteja presente durante todo o filme - quer por Jack e Ennis ocultarem a sua bissexualidade e a sua relação homossexual; quer pelo distanciamento entre Ennis e
Alma, sua esposa; quer através de alguns diálogos que o exprimem friamente -, Ang Lee não consegue explorar da melhor forma a ideia do preconceito relativamente à classe homossexual, que raramente interfere de forma directa com a relação oculta entre Twist e Del Mar. O plano do medo e preconceito relativos à homossexualidade torna-se notório apenas aquando do assassinato de Jack Twist (supõe-se que a pedido da sua mulher, Lureen).

Como apenas mais uma história de amor - apesar da sua ousadia, ao ser protagonizada por dois homens -, Brokeback Mountain não acrescenta nada de novo àquilo que se tem produzido ultimamente, sendo mesmo possível equipará-lo ao Titanic: um amor proibido e fatal, sendo que um dos amantes morre no final do filme e outro promete guardá-lo na memória para todo o sempre (bla bla bla)...
A fotografia é genial do princípio ao fim do filme e a banda sonora apaixonadamente adequada.
Não me parece, ainda assim, adequado, recomendar e/ou relacionar American Beauty com Brokeback Mountain. (E eu juro que só reparei que Titanic fazia MESMO parte da lista de recomendações da IMDb, depois de o escrever...)


It is just another love story (ver
trailer).

O Eneagrama (4)

Por vezes, não é fácil abdicarmos das nossas convicções e valores mais enraízados. O facto de admitirmos que não temos razão inferioriza-nos perante os outros; o nosso nível de exigência para connosco próprios não permite que o façamos; o problema começa quando as nossas exigências se estendem aos outros e limitam a sua margem de manobra...


TIPO 1
eu tenho razão

"Cheio de princípios, organizado, perfeccionista, punitivo, crítico, o indíviduo de tipo 1 tem padrões de exigência muito elevados para consigo mesmo e para com os outros. É sempre muito bem comportado e civilizado; tem dificuldade em ser espontâneo. Percebe o mundo em termos de certo ou errado, sem área intermediária. A autocrítica é um traço constante na sua vida e espera críticas dos outros, nem que sejam leves, parecendo, contudo, que as evita constantemente, dando a entender que tem sempre razão. Quando espera críticas, pensa que os outros também as esperam e, assim, toma a iniciativa de criticar, até por amor.

Pode ser visto como aristocrata e arrogante devido à sua postura e rigidez. É aparentemente calmo e insensível nas manifestações de emoções como amor e raiva. Vive num padrão irrevogável tanto para grandes como para pequenos items. Pode ser autoritário e reprovador, disfarçado atrás de regulamentos e formalismos; recorre a regras "acima" de si. Pode parecer compulsivo na busca da perfeição. Leva tudo muito a sério. O seu sucesso, prosperidade e segurança, são considerados mais como uma prova das suas virtudes do que como algo a ser desfrutado.

Tem dificuldade em aceitar elogios, principalmente genéricos e para reconhecer suas próprias conquistas. Em geral, o seu prazer vem de um trabalho bem feito, porém, o tipo 1 não precisa da admiração dos outros, ele precisa do respeito. Geralmente controlado, não apenas nas atitudes e no ambiente, mas também nas emoções, pode tornar-se confuso se as coisas saírem do seu controlo. É um tipo muito difícil de agradar, meticuloso e rigoroso com a forma e o detalhe de tudo aquilo que lhe diz respeito."

sábado, 24 de junho de 2006

J. presents...


Uma visão pacífica sobre o mundo.

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sexta-feira, 23 de junho de 2006

Uh ?

Desde quando é que eu publico imagens nos meus blogs?




(Esqueçam, já o faço há algum tempo...)



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Entretanto...

O exame de Direito Constitucional II correu bem melhor do que se podia esperar... de mim. Agradecimentos à toa! Agradecimentos à Rita, aos maravilhosos apontamentos que ele me enviou, às cábulas.

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Boa música e conversas de café... num sofá.

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Conversas sérias e copinhos amargos. E cerveja preta.







...não, não estou nada inspirado, hoje.

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sábado, 17 de junho de 2006

Há seis meses atrás...




Yellow dreaming.
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Terrakota


Ontem, no Martim moniz, assisti a um concerto de Terrakota. Pouco conhecia, de tudo o que ouvi; mas gostei. Ao ar livre, gratuito, e de duração superior a duas horas, o concerto de Terrakota foi um dos pontos altos da noite.
No contexto do Festival das Diversidades, até o local me pareceu adequado...

domingo, 11 de junho de 2006

CAVEIRA



Podemos dizer que a componente experimentalista extrema, que compõe a sua música, a torna absolutamente imprevisível e que o ruído (sim, ruído) que produzem, com apenas três instrumentos e sem vocais, é ensurdecedor. Ainda assim, a conjugação (des)ordenada das guitarras e da bateria, pelas mãos de Pedro Gomes, Rita Vozone e Joaquim Albergaria, forma das composições mais frenéticas e apetecíveis que alguma vez ouvi.


O Eneagrama (3)


1 - Tenho razão.
2 - Eu ajudo.
3 - Eu consigo.
4 - Sou diferente.
5 - Eu observo
6 - Faço o meu dever.
7 - Sou feliz.
8 - Sou forte.
9 - Estou satisfeito.

segunda-feira, 5 de junho de 2006

O Eneagrama (2)

As três alas: ventre, coração e cabeça


Tipos de centro no ventre

São os chamados "tipos hostis", por reagirem institivamente aos estímulos que lhes são apresentados; o seu sistema olfativo e auditivo é apurado, o que lhes permite encarar a vida como um campo de batalha. Interessam-se pelo poder e pela justiça e dão valor ao seu próprio espaço. Vivem no presente, recordam o passado e esperam algo do futuro, mas é-lhes dificil conceber um projecto e manterem-se fieis ao mesmo, principalmente quando temem que não dê certo. Aí, agem com desembaraço e firmeza, ainda que sejam atormentados por dúvidas de carácter moral.


Tipos de centro no coração

Os indivíduos destes tipos tendem a orientar as suas acções para os outros. Vivem no mundo dos sentimentos subjectivos e prezam as relações inter-humanas. Os seus sentidos mais desenvolvidos são o tacto e o paladar. São prestáveis e adaptaveis (ou tentam sê-lo) e encaram toda a vida como uma grande tarefa; têm um grande sentido de oportunidade e responsabilidade. Enquanto vivem para os outros, reprimem os seus próprios sentimentos e escondem-se atrás de uma fachada de bondade e activismo, mesmo que se sintam incapazes, tristes e envergonhadas.


Tipos de centro na cabeça

Ao contrário dos indivíduos cujo centro se situa no coração, os tipos da cabeça afastam-se dos outros indivíduos. Primam pela reflexão em detrimento da acção e, sendo regidos pelo sistema nervoso central, o seu sentido mais apurado é a visão. Têm um enorme sentido de ordem e dever. Parecem ter menos necessidades e deixar mais espaço para os outros; a sua necessidade de segurança é, porém, maior do que em qualquer um dos outros centros e o medo leva-os a esconder a ternura por detrás de uma fachada de objectividade e imparcialidade. Agem de forma clara e inteligente, mas internamente sentem-se frequentemente isoladas, confusas e absurdas.

domingo, 4 de junho de 2006

O Eneagrama (1)

Aos leigos:

O Eneagrama é um sistema criado numa altura que remonta ao período do império romano do ocidente. Este visa classificar as pessoas de acordo com nove tipos distintos, todos eles com características demarcadas de forma neutra, sem divisões entre defeitos e virtudes. Cada um dos tipos possui símbolos que o identificam, sejam estes artefactos materiais, pecados, cores, animais, atitudes ou posturas, maneiras de estar ou pensar.
Cada um dos tipos, ao dar-se com indivíduos de outros tipos, sofre transformações; estas podem ser consideradas um falso consolo ou um verdadeiro consolo, tornando o indivíduo num ser melhor ou pior.

Exemplo: o tipo 6 que vai ao tipo 9, tornar-se-à mais calmo do que se se dirigir ao tipo 3 (sim, o tipo 6 é um chato).

Qual será o vosso tipo?

Enquanto esperam pelo desenvolvimento, façam o teste.

domingo, 28 de maio de 2006

Les uns et les autres


Os tempos correm, manifestando na sociedade os seus mais intímos desejos. As mentalidades evoluem juntamente com a tecnologia, com a moda, com a música. Criam-se novas necessidades, novos prazeres, novos vícios. A felicidade torna-se um luxo quando comparada à mulher do melhor amigo. E este é apenas mais um homossexual infeliz. Pensam no marido que perderam na guerra. Surge a prostituta: enche de cor as noites do grupo de amigos que se contentava com uma cerveja na primeira noite e uma bebedeira como despedida das quentes noites de Verão. E as suas mulheres não sabem. Não existem. O suicídio parece ser uma porta aberta a um mundo repleto de cor. Monocromático. Como o fumo de um cigarro.

As histórias do dia-a-dia que compõem as nossas vidas conseguem multiplicar-se e, ao mesmo tempo, parecer tão semelhantes como qualquer déja vu.
Em 45 de vida, de nascimentos e óbitos, de alegrias e tristezas, nem a mais verdadeira amizade se mantém.

Guerras. Festas. Jantares. Rádio. Televisão. Casamento. Família. Intriga. Amor. Morte.

Música.

quarta-feira, 24 de maio de 2006

Porquê?

Falta-lhe a força. Mas é isso que o faz caminhar.

sexta-feira, 5 de maio de 2006

Simplicidade

Se tudo é simples, como dizes, porque é que o sonho continua a (con)fundir-se com a realidade?


J. (it is time to come back.)

terça-feira, 4 de abril de 2006

Reflexo (2)

Parte 5
Funeral

A sexualidade quotidiana torna-se fúnebre quando observada do ponto de vista do morto; diz-se que cheirava a sexo, que emanava aquele odor a carne tão característico que todos apreciam, que comove, que excita. Mas acabou. Aquele odor a carne desapareceu e o morto tornou-se desinteressante.
No seu funeral não vi todas as amantes que teve em vida; ao invés, a sua esposa chorava-o cinicamente enquanto o mordomo a observava pelo canto do olho, despindo-a com o olhar.

A cor da imagem não é substituível pelo fulgor das palavras.

quinta-feira, 9 de março de 2006

Reflexo (1)

Parte 3
Do desenho




Pediste-me um desenho. Decidi-me pelas três caricaturas que te apresentei, cada uma do diâmtetro de um pequeno damasco. Não eram amargas nem doces, tão pouco satifatórias; até o damasco te teria servido melhor: poderias acariciar-lhe a pele, abocanhá-lo com vigor e saboreá-lo como se do acordar numa manhã soalheira se tratasse.
No entanto, admiro-te pela sofreguidão com que admiraste a composição disconexa que tracei no bloco que me confiaste. O teu elogio silencioso pesou-me no peito, acalmou-me e fez-me repensar um pouco aquilo que sou - aquilo em que me tornei.
Inacabado, como qualquer outro indivíduo que me rodeia, ainda busque diariamente novas formas de enaltecer a fraca personalidade que me consome. Não a quero, rejeito-a.
Olho-me ao espelho e vejo um pouco de mim no canto do quarto - o meu reflexo, sem dúvida; grita e gesticula, procura não ser agarrado pela inércia e estatismo da cultura de massas da sociedade actual. Afasta-se cada vez mais e deixa bem claro que nada poderei fazer para o recuperar. Abandono o meu próprio reflexo e repenso-me enquanto sombra: um ente negro, obscuro, desinteressante, e recupero a necessidade de aprender, porque sou trabalho inacabado, sou todos excepto aquele que idealizei ser.
Foco o espelho, de novo, redobrando a atenção. Fixo-me num ponto mais próximo: o castanho dos meus olhos, que se aproxima do negro enquanto a luz espelhada se revela num novo mundo que tenciono explorar.

Drawing by kmpyy (edição: Jaime Mascarenhas de Almeida)
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segunda-feira, 6 de março de 2006

Redefinições

A distinção entre Photograph.me e Caricature.me é cada vez mais ténue. Começo a achar-me ridículo.






Welcome to my new caricature: my own photograph.
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Do amigo

É uma afirmação sem arte alguma, mas tem razão e paixão; pesa-lhe a sinceridade, ainda que nem sempre verdadeira seja.
Aplica-se ao caso concreto, descobrindo a frieza não intencional dos actos irreflectidos; o ódio que estes revelam é inconfundivelmente certo, como o passar do tempo, que preferes perder a passar mal, ainda que comigo. Refugias-te entre as paredes monocromáticas que o Mundo te oferece e esperas pacientemente que o Sol brilhe só para ti.

Passaram três anos sem que te tenha conseguido ensinar que o Sol brilha por todos, e denota a felicidade - da qual não partilhas - com toda a cor e esplendor que não consegues ver ou sentir.
E, ainda hoje, insistes em mostrar-me os tons monocromáticos com que pintaste o Mundo em que vives.
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Something for a living

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Profissão: Fotógrafo amador, escritor wannabe, técnico informático, webdesigner.

Hobbies: Direito.

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domingo, 5 de março de 2006

De madrugada

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Nunca te menti.

E ainda que verdade, custa-me acreditar que menti por ti.


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sábado, 25 de fevereiro de 2006

A 40 milhas do Sol

A simpatia das pessoas assuta-me.

Não distingo as pessoas das não-pessoas. Identifico-me um pouco com qualquer destes tipos, desde o mais ao menos original possível, embora sinta, ainda, uma sede de diferença e originalidade perante tudo aquilo que me rodeia.
Quero re-surgir e mostrar ao Mundo o pó que me cobre.
Sinto-me como se tivesse sido deixado na prateleira durante uns anos, estático, imóvel; esquecido, até que aquele raio de Sol feriu os meus olhos após ter entrado furtivamente pela janela. Obrigou-me a abrir os olhos e a observar o Mundo, sem que eu lhe tenha conferido esse direito.


(risquei esta parte.)


Durante todos estes anos permaneci encostado à confortável posição da minha ignorância crescente, chegando mesmo ao ponto de não querer saber mais do que aquilo que esqueci. Percebo melhor todos aqueles que me rodeiam não sabendo o que esperar deles.
No passado conseguia prever-lhes todos os passos, e sei que no futuro próximo que se avizinha isso não voltará a acontecer, o que me permitirá dormir em paz... esta noite.


(risquei esta parte.)


Brinquemos a Deus. Observemos a reacção humana no primeiro dia, para que os possamos esteriotipar no segundo, dividindo-os em secções no terceiro. A tabela com as suas semelhanças será publicada no decorrer do quarto dia. Durante o quinto, encontrar-se-ão todos aqueles que fogem ao sistema, identificando as suas anomalias no sexto. Descansarei a partir do sétimo, sentindo que terei conhecido tudo.
Não é difícil esteriotipar a humanidade: é uma cultura de massas que nos move e que preferimos seguir a marcar um passo de originalidade; o medo faz com que assim seja. É por esse motivo que a simpatia me aflige. O mesmo sorriso amarelo de todos os dias confunde-se com tantos outros, de tal forma que me custa já distinguir o verdadeiro sorriso do sorriso-tipo.
O amarelo esbranquiçado quotidiano consome-me a carne e mente.



Sinto que escondes um sorriso vermelho-paixão.


J.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Sobre os lençóis

O sono encobre a minha lucidez e tolda-me os sentidos. Deito-me sobre os lençóis sem me tapar e fecho os olhos. Tento dormitar e tu és, ainda, a única grande imagem que não mo permite.
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E quero que saibas que não te confiro esse direito.
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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Ciúme

Sabes, gostei de falar contigo. Transmites calma, apesar de todo o sofrimento silencioso que encerras no peito.
O homem também o sente, de outra forma, mas sente; e também quer chorar e por vezes não consegue. Nota que nem todos são assim e tens de facto de saber escolher, ou deixar que a escolha em si te toque no fundo. Não, não se trata de ouvir violinos, apenas de deixar o coração bater naturalmente: irá bater mais rápido na altura certa.
E o ciúme, perguntas tu, é necessariamente nefasto? Não. O ciúme é comparável à curiosidade: depende, em parte, do que queiras perguntar ou saber. Será adequado, e mesmo agradável, sempre que não firas os sentimentos de outrém. É bom sabermo-nos amados...
E o ciúme é uma das formas de demonstração dos sentimentos; não o considero um sentimento em si, pois sem um fundo amoroso, teria de o considerar um sentimento negativo. Assim, o ciúme deverá ser considerado um dos sentimentos que explica o amor, ainda que sendo o pior de todos eles. Corrói, destrói relações.

E assim, faz-nos crescer.





Aprendeste a confiar?

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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

O despertar dos sentidos

O Mundo diz-te tanto sem que tenhas tempo para ouvir.

Pára. O tempo não é tudo, ainda que te consuma por dentro e por fora. Sim, masca-te a personalidade e saboreia-te a pele, trinca-ta e deixa-ta rugosa, elegante porém. A tua pele brilha como nunca, agora que as impurezas do teu corpo e da tua alma se evaporaram como gotas de água.
E nem te apercebes da dimensão da tua glória.

Ouve! O vento é bonito de se ouvir, lembra-te o mar que não aprecias e a chegada do Outono. Lembra-te o sopro do filho que nunca amaste.
Se todos à tua volta te parecem falar baixo, ouve com atenção; escuta-os e perceberás o sentido da futilidade que assume a vida que levas, o sentido do desinteresse da vida alheia e da cusquice do dia-a-dia, o interesse da paixão verbal do casal a teu lado.

Observa... O teu olho clínico apreendeu o verdadeiro significado do pôr-do-sol, ou tornaste-o novamente numa imensidão de raios laranja e vermelhos com tons de amarelo e rosa, que desce lentamente rumo ao outro lado, aquele que nunca viste e que ainda assim descreves como se de um dogma se tratasse?

Não compreendes a beleza do que te rodeia; não te dás o devido valor.



Pare, escute e olhe.



[Agradecimento de uma tarde no Castelo de S. Jorge]

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

És amado

A escuridão da noite permite-me, ainda, ver-te desaparecer por entre as árvores negras. Sinto que há qualquer coisa, uma força superior que me repele e ao mesmo tempo me puxa para ti; quase como se nos esmagasse os corpos, como se os unisse por força do destino. O ar frio que me trespassa o corpo leva com ele os sentimentos mais quentes e apaixonantes que alguma vez atravessaram o meu coração, e espero que cheguem até ti. Que te toquem como me tocaram. Que te despertem...


Não esqueças os que te amam.
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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

Volta para junto de mim

És preciso aqui. Porque me ouvias sempre que precisava, e me aconselhavas mesmo quando não queria ouvir-te os conselhos.
Mas fugiste.
Porque fugiste? Estou há quatro dias sem te saber o paradeiro, e apenas me conforta a batida do meu coração, que me indica que tudo está bem. Ouve: ainda bate, devagar.
Custa-me a respirar, porém. E já não consigo falar. Perdi a voz; a minha voz de fadista deu lugar à afonia dos meus sonhos irrequietos e ruidosos. A cama range enquanto esperneio em busca do teu ombro amigo.

Mas, de súbito, o meu corpo suado acorda para a realidade do teu ser presente. E ali estás tu. Mais uma vez, os teus olhos penetram-me com todo o seu ardor, e fazem com que o coração teime em saltar-me do peito. E ali permaneço, à tua espera, inerte. E tu nada fazes.




Foges-me de novo.
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terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

Conceito. Bem-vindos.

O conceito subjacente a photograph.me decorre do anterior conceito utilizado no blog customize.me.

Comecemos por averiguar o significado das duas expressões:

1. customize verb to make or change something to suit the needs of the owner.
2. photograph noun a picture that is made by using a camera that has a film sensitive to ligt inside it.


Customize diz respeito a alterações. Procura-se aperfeiçoar ou alterar um determinado objecto, respeitando um conjunto diverso de pequenos moldes.
Photograph é como um espelho. Não há grandes alterações que possam ser feitas, ainda que necessárias. A fotografia pode ser alterada digitalmente, mas conserva a sua essência, não há maneira de lhe fugir.



É pena que tenha percebido isso tão cedo.


Welcome to my world.