Parte 1
Água
Deito-me na cama e aguardo pacientemente a tua chegada. Sei que nunca te terei por inteiro, mas o simples toque da tua pele conforta-me. Olho para os indivíduos que te comem, à bruta, todos dias, penso que [eu] podia ser mais um idiota, desinteressante, fútil, penso que podia não me importar com o que sentes ou deixas de sentir no mesmo minuto que te deitas a meu lado... mas não. Sento-me na cama, a teu lado, observo-te de alto a baixo e aprecio os teus contornos com o olhar até que te voltas para apagar a luz da mesinha de cabeceira.
- Boa noite - dizes.
- Até amanhã - respondo eu, na esperança de que o amanhã seja melhor.
A meio da noite sinto o teu braço, gélido. Tento aquecer-te, mas sinto-te cada vez mais fria, distante. Ainda assim, derretes a meu lado, desapareces de uma vez por todas e eu sinto-me feliz. És água, água pura. Gelada.
O rádio-despertador marca 10:27. Não ouvi o soar das 7:35. Já não estás a meu lado, saíste cedo para o trabalho. Levanto-me e caminho lentamente até à casa de banho. Reparo nas portas do roupeiro entreabertas.
- ...É sábado...
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