sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Reflexo (5)

Parte 4
O Postal de Natal


Aos 15 todos fazemos o que fazemos; aos 20 temos a oportunidade única de fazer o que não mais voltaremos a fazer; tudo faz parte de alguma lei que se entendeu ser a da vida. Tudo isto estará certo desde que os princípios sejam os certos.
- É sempre mais fácil ajudar quem está longe que dar a mão ao nosso vizinho;
- É sempre mais fácil "encostar" e esperar que o mundo resolva;
- É sempre mais fácil esquecer que a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros;
- É sempre mais fácil escamotearmos o ter que fazer nos chamados pensamentos filosóficos que irão mudar o mundo;
- É sempre mais fácil julgar os outros pela mediocridade dos actos, mas afinal as coisas básicas têm de ser feitas;
- É sempre mais fácil...

Nunca esquecer que todos temos algo a fazer e ninguém tem o direito de julgar!

Um bom Natal, Santo quanto baste, sensato e menos virtual.

Luís


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Escrevo a lápis tendo a esperança que a mensagem deste postal se apague com o tempo. Seria muito mais fácil falar de ti, fugindo ao facto de eu ser um chato de primeira, mas, seguindo o princípio básico que enunciaste - ninguém tem o direito de julgar - vou limitar-me a explicar, sinteticamente, de que fibra sou feito...

[ideologia política; gestão caseira]

Ainda assim, nunca poderás acusar-me de inconsistência entre a forma de pensar e a forma de agir. Cada vez mais, ajo, não sem pensar, não me limitando a tentar mudar o mundo, mas começando por algum lado. Afinal, não é o que os senhores deputados fazem naquela salinha?
Mesmo não tentando mudar o Mundo, sei que é possível fazer alguma coisa pelos que nos são mais chegados. Estando fisicamente longe ou não, ajudo quem me pede a mão e, ainda que não peçam, ajudo quem não o recusa, porque o orgulho ainda não possuiu o seu ser. Não há nada como o sentimento de partilha e confiança que advém da entreajuda inter pares. Quando o faço, tento passar uma mensagem com vista a corrigir um erro anterior, não através de um mero juízo de valores, mas de um ensinamento que toca a raiz do pensamento. Note-se: a displicência não forma o Homem. Ao ajudar, seja de que forma for, construo-me, enquanto colaboro para o bem-estar de quem agradece a minha presença. A liberdade alheia é respeitada na sua essência, uma vez que a pessoa em questão pode recusar.
Mas penso que falavas da liberdade de uso de bens materiais... na sua essência, o problema não deveria ser a proibição do seu uso, mas a sua conservação independentemente da utilização do objecto em causa. Se o bem for tornado comum, criar-se-á uma necessidade, também ela comum, de conservar o mesmo, visto que todas serão partes interessadas.
Concretizando, não te peço que mudes, mas, se prezas tanto tudo aquilo que é teu a ponto de proibires que toquem nas tuas pertenças, devo dizer-te que deverás passar a ter mais cuidado sempre que usares algo que seja meu. Não te peço que efectues qualquer tipo de manutenção, apenas que deixes no mesmo estado em que encontraste. O termo «arrumar» é-te familiar?

*****

Já tinha sonhado com o teu postal de Natal. Já lhe "conhecia" o conteúdo... Preferi manter a resposta que já tinha pensado, desta vez ao som do Sr. Variações ("É P'ra Amanhã"/"Muda de Vida"). Pretty self-explainatory. Aproveitando o facto de neste postal de "Natal" não constar nenhuma mensagem de "Feliz Natal", toma-o como uma mensagem de "Próspero Ano Novo". Próspero ou não, será diferente, certamente.

A mensagem que tento trasmitir-te é simples: luta-se por tudo aquilo em que se acredita, pois só assim será possível atingir uma meta mais longínqua, ainda que passo a passo. Para "encostar" e "deixar que o Mundo resolva" é preciso ser-se [ainda] muito ingénuo e, com alguma tristeza da minha parte, já passei [por] essa fase há algum tempo... A inconsistência e incerteza que advém da formação da mentalidade foi deixada para trás dando lugar à conformidade entre pensamentos, ideias e acções; e ainda hoje, não a identifico em ti.

P.S.: No anterior postal de Natal assinaste como Pai, no bilhete de aniversário como "Pai" e desta vez como Luís. Como esse pequeno gesto de mau gosto me pareceu inaceitável, decidi explicar-te quem sou. Pointlessly, perhaps; it is just the beginning, though.


Feliz Ano Novo,


Jaime ..............................

1 comentário:

Jaime de Almeida disse...

Eu sou um monstro, certo?