sábado, 8 de agosto de 2009

Declaração de amor (II)


Conseguiste que te odiasse de forma irascível. Não acredito que o quisesses, mas é já tarde demais para voltar atrás. E pensar que, a meu ver, completavas o meu dia.
Olhando para trás consigo perceber que, em certas alturas, tentaste destruir tudo o que de bom pudesse rodear-me. Olhando para trás consigo perceber que, em certas alturas, não me amaste; e como se não bastasse conseguiste deixá-lo bem claro. Só que, a meu ver, eras dEus; o meu ídolo, a minha diva.

Sim, ceguei e tenho plena consciência disso. Amei-te demasiado, sim. Mas, analisando a situação - como tanto eu gosto de fazer -, chego à conclusão que fiz tudo aquilo que estava ao meu alcance para te manter por perto. Fiz precisamente o que devia ter feito. Entreguei-me a ti e esperei que te entregasses a mim, sem nunca te exigir o teu amor. Exigi-te que partilhasses o meu espaço sem tentar invadir o teu, exigi que me conhecesses e que me desses a conhecer um pouco mais de ti, exigi a tua presença de espírito numa relação que considerei condenada a priori, mas nunca te pedi que me amasses; só queria que estivesses lá. E, assim, mantiveste-te a meu lado. Pelo menos o teu corpo tocava no meu, iludindo-me um pouco, deixando que tomasse a tua mente pelo teu toque.
Mas foram mais as vezes em que aproveitaste para me humilhar levemente perante todos os presentes do que aquelas em que me senti incapaz de te apoiar.
Foram mais as vezes em que fizeste notar o teu cansaço ou indisponibilidade para passar um pouco mais de tempo comigo do que aquelas em que recusei acompanhar-te para onde quer que fosses.
Foram mais as vezes em que falaste bem de mim aos outros do que aquelas em que admitiste sentir-me a falta.
Foram mais as vezes em que vacilaste do que aquelas em que te dispuseste a amar-me. E só não foram mais as vezes em que te decidiste a abandonar-me porque essa foi das poucas decisões que tomaste sem vacilar.

Resta-me recordar o bom que foi, resta-me sentir o teu cheiro nos lençóis, resta-me ouvir a tua voz a cada esquina, resta-me imaginar-te nos meus braços, resta-me sonhar contigo. E uma vez que o ódio é a mais pura forma de amor, prefiro que me odeies a ser-te indiferente. E eu espero; espero que um dia o ódio seja esquecido e que, então, eu seja capaz de não te amar.

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