segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Declaração de amor (I)


Bem sabes que nunca amei ninguém antes de olhar para ti. Conheci-te, apaixonei-me, manifestei-te a minha vontade de estar a teu lado, conheci-te um pouco melhor e amei-te com todas as minhas forças. Entreguei-me à sofreguidão do teu olhar, à força do teu toque e à irresistibilidade do teu charme. Afundei-me na imensidão do teu mundo, tão vasto e especial, diferente de todos os outros que alguma vez conseguira alcançar.

O som da tua voz ao longe era suficiente. Ainda assim, o teu toque e o teu beijo eram os ingredientes da fórmula secreta que me fazia levitar. Com o tempo, a necessidade desse toque consumiu-me por dentro e tornou-me feliz como nunca me sentira, tornou-me apenas parte do corpo e do espírito que fomos. O teu corpo e o meu foram um só; sem a ti a meu lado, eu não me sentia completo.
Quando as nossas vozes se calavam, ouvíamos música. Ouvimos música nas mais variadas situações e escolhemo-la a dedo para todas elas. Ainda me recordo de uma manhã, que começou com Caribou e Notwist, em que ameaçaste casar-te comigo quando fiz panquecas para o pequeno almoço. Ainda me recordo da noite em que assitimos ao concerto de Mogwai e ao chegar a casa te enfadei com um pouco mais do mesmo, só porque sim. Ainda me recordo das tardes que passámos deitados lado a lado ao som das minhas listas de reprodução esquizofrénicas; e recordo-me daquelas vezes em que demorei tanto a construí-las que te levei a ponderar se estarias no sítio certo à hora certa... e, quiçá, com a pessoa certa.
Recordo-me dos telefonemas que recebi da Holanda e da Bélgica em que confessaste a saudade que sentias da minha companhia. Recordo-me da nossa viagem de três dias. E lembro-me que aquilo de que mais gostaste foi de fazê-la comigo a teu lado. E, sim, lembro-me de ter ficado perplexo com essa tua afirmação.
Lembro-me de todas as vezes que vieste ter comigo de madrugada, só porque sim. Oh, sim!... como me sabia bem ter-te depois de uma noite de trabalho...
Lembro-me do calor que sentia no peito ao ver-te entrar a porta do bar. E lembro todas as vezes em que o meu peito gelou porque me fazias ficar a desejar que não tivesses vindo.

Sempre me perguntei se olhavas para mim e para os outros com esse mesmo olhar de prazer, que revela a tua paixão por aquele que tens em cima de ti; calei-me e guardei o pensamento só para mim, pensando que eu era especial. Eu sentia que era; eu senti que fui. Eu senti que deixei de ser.

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